Redução de incertezas e maturidade do mercado consolidam bons resultados no setor imobiliário

Redução de incertezas e maturidade do mercado consolidam bons resultados no setor imobiliário

23/11/2022
Compra e Venda

Se, no fim de 2021, o setor imobiliário temia pelos impactos do aumento das taxas de juros e das incertezas em relação a questões políticas e econômicas do país sobre o mercado, ao fim de 2022 ele respira aliviado e até otimista em relação a 2023. O motivo é a consolidação de bons resultados nos nove primeiros meses do ano – ainda que eles não superem os recordes registrados no ano passado. Os financiamentos imobiliários, por exemplo, somaram R$ 136,48 bilhões até setembro, de acordo com dados da Brain Inteligência Estratégica.

O montante é 11,8% menor do que o do mesmo período de 2021, mas mostra-se positivo em relação a um histórico mais amplo. “‘Nossa, que ruim, uma queda de quase 12%’. É, mas em 2020 foram R$ 78 bilhões e, em 2019, R$ 54 bilhões. Quando olhamos para os resultados de lançamentos e vendas de 2022, estamos comparando com o melhor ano da história do setor imobiliário”, disse o sócio e CEO da consultoria, Fábio Araújo, ao apresentar os dados aos integrantes da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi-PR) durante evento para convidados na última quinta-feira, 17 de novembro.

Em termos de unidades financiadas, a queda foi maior: 15,6%, totalizando 559,6 mil. A diferença é reflexo do aumento do preço médio do metro quadrado, registrado em todos os tipos de imóveis.

Para Araújo, o resultado é fruto não só da redução de incertezas, o que aconteceu à medida que os cenários possíveis, principalmente os políticos, foram ficando mais claros, mas também da demanda, que se manteve aquecida em 2022, apesar de um cenário econômico desafiador – mas melhor que o do ano anterior. “As pessoas que efetivamente mantiveram condições de comprar um imóvel, compraram. Além disso, imóveis são considerados reserva de valor e os preços estavam aumentando. As pessoas começaram a ir em plantões e perceber que, se não comprassem, estariam perdendo dinheiro, porque, guardado, ele não estava acompanhando o valor do imóvel”, diz.

Outro ponto ainda foi o que o presidente da Ademi-PR, Luiz Gustavo Salvático, definiu como "maturidade do mercado”. “O mercado reagiu bem a toda incerteza que tivemos, porque teve maturidade. Ele veio de um período de um pico muito grande logo no início da pandemia, puxado por aquela ideia de morar bem, que logo depois foi se acalmando. Agora, ele está num momento de estabilidade: as pessoas continuam querendo melhorar suas casas e estão com condições financeiras para isso, mas estão mais ponderadas, analisando melhor. Isso transpareceu aos incorporadores, que rapidamente entenderam o momento e adaptaram seus negócios”, avalia.

Um reflexo disso seria, por exemplo, a redução no número de lançamentos residenciais entre janeiro e setembro. Foram 199.707 unidades lançadas, 8,5% a menos do que nos primeiros nove meses de 2021. Conforme Salvático, a lição foi aprendida no boom imobiliário do início da década de 2010, quando os empresários do setor se deixaram levar pela empolgação do momento e não se adaptaram rapidamente à estabilização e redução do ritmo de compra dos consumidores. E, com vendas em ritmo similar ao do ano passado – foram 225.167 unidades residenciais vendidas, ante as 225.049 do período de 2021 –, a oferta pode ser controlada para atender ao cenário atual.

Em Curitiba, estoque novo e preços em alta

Em Curitiba, mais do que controlada, a oferta é favorável aos empresários do setor, porque o estoque, composto por 9.380 imóveis, é novo. Isso reduz a possibilidade de incorporadoras optarem por feirões de desconto para se livrarem de unidades prontas para poderem gerar caixa e lançar e construir novos empreendimentos.

Soma-se a isso o fato de que, em meio a um cenário econômico mais favorável do que o que se previu para 2022, com inflação mais contida e redução do desemprego, por exemplo, a capital paranaense se mostrou especialmente próspera e, consequentemente, promissora para o setor imobiliário.

Esses fatores contribuíram para que o mercado imobiliário local se mantivesse no ritmo de 2021. Em 12 meses (até setembro), as incorporadoras da cidade liberaram 23.800 alvarás para construção, volume semelhante ao do boom imobiliário do início da década passada – o que, para Araújo, demanda atenção para, justamente, manter a oferta alinhada à demanda do mercado e não provocar um período de crise como o de 2015.

Além disso, os preços do metro quadrado subiram mais de 15% – e se mantêm em alta – em todos os segmentos, mesmo com a estabilização dos custos do setor. Destaque para os apartamentos com três quartos, cujo valor do metro quadrado atingiu R$ 11.445, 26,9% a mais do que no terceiro trimestre de 2021.

Os resultados fazem com que empresários do ramo finalizem 2022 mais animados do que entraram nele. “Soubemos equalizar a oferta e as vendas, por isso vemos um desenvolvimento em todos os segmentos e ninguém está freando. Lógico que há limitações específicas de Curitiba para viabilizar, por exemplo, frações dos terrenos para interesse social, o que acaba jogando esses empreendimentos para a Região Metropolitana. Mas acredito que esse novo governo, que inventou o Minha Casa Minha Vida, venha novamente ativar uma pujança nesse segmento. E Curitiba está se mostrando uma cidade resiliente em relação a outras capitais do Brasil, com geração de emprego, recuperação de renda e crescimento econômico, então estou otimista”, afirma o diretor de novos negócios da Swell Construções, Leonardo Pissetti.

Fonte: Gazeta do Povo